Concluir a faculdade é um momento de alegria para todos os estudantes. Receber a conclusão de uma das etapas mais importantes da vida é satisfatório e sinal de dever cumprido. Com o Jean Bruno Vieira não foi diferente.
Na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência, Jean Bruno conta sua história de superação ao concluir o curso de Licenciatura em Pedagogia EAD, na Universidade Anhanguera – UNIDERP e fala da importância da APAE de Campo Grande em sua trajetória acadêmica.
A trajetória escolar do Jean Bruno no Centro de Educação Especial Girassol (CEDEG/APAE), iniciou-se em 2005. “Quando entrei na APAE, à primeira vista era tudo diferente. Eu não entendia o porquê de estar nesse lugar. Com o passar do tempo fui entendendo que eu também tinha uma diferença. Mas, não queria aceitar”, contou.
Jean conta que aos poucos a APAE/CG foi mostrando caminhos que o fizeram dedicar-se aos estudos, entrar na faculdade e a concluir o tão sonhado ensino superior. “Foi muito difícil mesmo. Mas, eu tive muita força de vontade para ser alfabetizado e para aprender. E hoje, tenho 29 anos de idade, sei ler e escrever. Graças a Deus já terminei minha faculdade de pedagogia e batalhei muito para chegar onde cheguei. Não foi fácil”, explicou.
Além de enaltecer o trabalho da APAE de Campo Grande em sua vida escolar e acadêmica, Jean Bruno também falou da importância que a sua mãe teve durante todo o processo. “Nasci com uma deficiência chamada Encefalocele Occipital, minha mãe não sabia o que fazer. Fui desenganado pela medicina, os médicos disseram que eu teria vários problemas, que não iria andar e nem falar e que talvez não iria nem sobreviver, porque normalmente quem tem essa deficiência não sobrevive e se sobrevive, fica paraplégico ou em estado vegetativo. Só que a minha mãe lutou e intercedeu por mim. A APAE também teve uma grande contribuição. No início foi muito difícil. Mas, hoje estou aqui, falando bem, andando e tudo graças a essa mulher que nunca me abandonou, nunca me deixou”, declarou.
Perguntado sobre o que motivou a escolher o curso de Pedagogia, Jean Bruno fala em querer ajudar os colegas e motivá-los a seguir o mesmo caminho. “Gosto de ajudar as pessoas e acho a profissão muito bonita. A APAE é um lugar que sempre quis trabalhar. Adoro o meu trabalho e fico muito realizado ajudando os meus amigos que um dia estudei junto, lado a lado na sala de aula”, disse.
Em setembro de 2008, Jean Bruno começou a trabalhar no CEDEG/APAE como auxiliar administrativo, e desde fevereiro de 2019, após concluir o curso de pedagogia, passou a ser auxiliar docente na unidade escolar da APAE de Campo Grande.
Orgulhosa, a mãe Lílian Lima conta sobre a decisão de colocar o filho na APAE/CG e toda superação, sempre com muita força e fé. “Um belo dia, trouxe o meu filho para a APAE/CG e foi a melhor coisa que eu fiz. Tudo que a instituição faz é com muito amor e carinho. Sou eternamente grata pelas pessoas que apoiam o meu filho”, disse.
Lílian se emociona ao falar do filho e de sua força de vontade em alcançar os objetivos. “Meu filho fez uma faculdade. Ele estudou. Tudo dele foi mais devagar, mas fez. Quantos não fizeram? Quantas pessoas ditas normais não querem estudar e trabalhar? Ele é um filho querido que não me abandona, não sai de perto de mim. Um menino educado, grato e estudioso, que se eu derramar uma lágrima, ele enxuga”, conta emocionada.
Para os pais que têm filhos com deficiência, Lílian deixa um importante recado. “Não pensa que é o fim do mundo. Costumo dizer que: “filho especial, pai e mãe especial”. Pai e mãe que não abandona, que cria. Não desistam. Hoje olho para trás e vejo assim, nem doeu tanto. Se foi muito difícil, já esqueci, porque as coisas boas são tantas que nem me lembro mais o que doeu. Que o médico desenganou, que eu peguei ele tão pequenininho com 14 pontos na cabeça. Que foi falar com 2 anos e não parou mais. Que não ia andar e com 4 anos ganhou um patins e andou nele, andou de bicicleta e que a gente queria cuidar com medo e que agora é ele que cuida de mim. É o filho que está comigo, que pergunta onde dói? O que eu quero fazer? É o filho que não reclama”, contou.
Para a mãe, Jean Bruno é uma bênção que Deus enviou para mudar sua vida. “Me emociono, porque deixei sonhos e muitas coisas para trás. Hoje, vivo a plenitude de ser mãe e de dizer com orgulho: Esse é o meu filho. Agradeço a Deus mais uma vez pela vida do Jean Bruno e por essa instituição. E continuo dizendo, que o que eu puder fazer aqui, faço”, agradeceu.
Mãe e filho finalizam a matéria com uma linda declaração de amor.
Lílian: Te amo muito filho.
Jean: Também te amo.
Lílian: Te amo muito viu?!
Jean: Obrigado. Obrigado por tudo!
Lílian: A mãe que agradece!
Encefalocele Occipital
A encefalocele é um dos 3 defeitos do tubo neural mais comuns. Defeitos no tubo neural são problemas que ocorrem na formação do sistema nervoso durante a fase de sua formação no feto. No caso da encefalocele, ocorre um “vazamento” do tecido cerebral para fora do crânio. Para que isso aconteça, há sempre uma “falha óssea” associada, ou seja, um “buraco no osso” do crânio por onde escapa o tecido cerebral. Ela geralmente é coberta de pele e tem a aparência de uma “bolsa” colada na cabeça da criança.
A encefalocele mais frequente é a encefalocele occipital (atrás da cabeça do bebê), mas pode ocorrer em outras regiões: como encefalocele frontal, parietal, naso-etmoidal etc.
Assista o vídeo: